Conversa de jardim, 1ª parte
Dizem. Dizem que estou doido, que oiço vozes que não existem. Raios, se as ouço se elas me falam se me compreendem se me dão conselhos se me ouvem, serão falsas? Não estarão os outros doidos?
Ontem saí. Fui ao parque. Sentei-me, perdi-me. Não sei o que foi, se aquela folha simples, seca, quente, a dançar com o vento, se aquela calma, aquele silêncio, aquela deixa que me conduziu novamente a este questionamento interior.
Sei que estou doido, mas com a minha demência consigo ver que todos à minha volta não estarão assim tão sãos como a sociedade os cataloga:
- o médico que me vê de relance todos os dias, sim o mudo, nunca lhe vi um olhar feliz, só aquele olhar ferido, cavo e seco;
- a enfermeira que me trata, sim a cega, fala de forma cadente todo um discurso à muito decorado e que hoje é estandardizado para todos aqueles que pela frente lhe surgem. Muito provavelmente quando vai deitar os filhos repete: passas-te um bom dia? aleijaste-te? falas-te muito?
- a senhora da comida, sim a surda, nunca compreende aquilo que lhe é dito, de tão ocupada que tem a cabeça de vento…
No entanto, perante todos eles sou eu que estou doido. Como disse? Concordo, acho que tem toda a razão, claro mas todos eles estão mais ou tão doentes como eu, é tudo uma questão de curvas.
Ontem saí. Fui ao parque. Sentei-me, perdi-me. Não sei o que foi, se aquela folha simples, seca, quente, a dançar com o vento, se aquela calma, aquele silêncio, aquela deixa que me conduziu novamente a este questionamento interior.
Sei que estou doido, mas com a minha demência consigo ver que todos à minha volta não estarão assim tão sãos como a sociedade os cataloga:
- o médico que me vê de relance todos os dias, sim o mudo, nunca lhe vi um olhar feliz, só aquele olhar ferido, cavo e seco;
- a enfermeira que me trata, sim a cega, fala de forma cadente todo um discurso à muito decorado e que hoje é estandardizado para todos aqueles que pela frente lhe surgem. Muito provavelmente quando vai deitar os filhos repete: passas-te um bom dia? aleijaste-te? falas-te muito?
- a senhora da comida, sim a surda, nunca compreende aquilo que lhe é dito, de tão ocupada que tem a cabeça de vento…
No entanto, perante todos eles sou eu que estou doido. Como disse? Concordo, acho que tem toda a razão, claro mas todos eles estão mais ou tão doentes como eu, é tudo uma questão de curvas.
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