VIII: queDAS (2ª parte)
O cheiro da relva cortada sempre lhe despertou nostalgia. Nostalgia dos tempos de outra casa, com os pais juntos, os almoços na mesa grande junto à lareira, as histórias do avô antes de ir para a cama. Agora eram novos tempos. A relva já não serve de tapete a um pomar cheio de sensações diferentes despertadas, pelo caminhar junto a cada árvore diferente. Os perfumes agora são outros, se pudemos chamar-lhe de perfumes. A cidade, com o seu crescer, com as suas necessidades egoístas transformou esses perfumes em odores descaracterizados e feridos de essências que quebram a mais insensível lâmina do crivador. Hoje, as coisas iam mal… no trabalho, os papéis amontoaram-se uns atrás dos outros, ou melhor, uns acima dos outros, arranhando o tecto com a sua altura. Inês não estava de facto a ter sorte com a vida. Parecia que os deuses no alto do Olimpo reunidos em conselho tinham começado o seu jogo, e ela sendo o joguete nem bafejada pela protecção de Afrodite tinha sido, ficando Dionísio com toda a vantagem de dispor dela a seu belo prazer, ou não fosse esse o seu maior desejo. E assim, ali estava Inês, dirigindo-se para casa depois de mais um dia de trabalho. A visita quase diária ao mercado da esquina já tinha sido feita. O empregado mais uma vez, na sua tentativa frustrada (mais uma vez) de conseguir estabelecer uma linha de conversa questionou pelo visionamento do filme do dia anterior, resignou-se à sua simples existência de passador de produtos pelo laser da máquina, talvez noutro dia tenha mais sorte, isto se Dionísio tiver ido visitar o heterónimo grego, Baco e tenha deixado Inês viver com olhos abertos para a sorte…
A sorte nem sempre é madrasta. Vendo bem as coisas, o problema é voltar as costas à sorte, como se fosse algo de prescindível, ou simplesmente inexistente na vida. Inês há muito que o tinha feito. Desde que se viu envolvida numa tempestade de sentimentos no seu mediterrâneo interno. Desde que descobriu que nem sempre a bonança surge depois do inferno da revolta. Desde então, vive como só existisse a sua realidade, com todas as suas revoltas, golpes e estabilizações. Fechada ao resto do mundo, impedia a entrada de barbaridades no seu império e impossibilitava a saída de toda a civilidade do seu coração.
A sorte nem sempre é madrasta. Vendo bem as coisas, o problema é voltar as costas à sorte, como se fosse algo de prescindível, ou simplesmente inexistente na vida. Inês há muito que o tinha feito. Desde que se viu envolvida numa tempestade de sentimentos no seu mediterrâneo interno. Desde que descobriu que nem sempre a bonança surge depois do inferno da revolta. Desde então, vive como só existisse a sua realidade, com todas as suas revoltas, golpes e estabilizações. Fechada ao resto do mundo, impedia a entrada de barbaridades no seu império e impossibilitava a saída de toda a civilidade do seu coração.
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