quarta-feira, agosto 16, 2006

H2o (1ª parte)

É manhã.
O céu encontra-se salpicado de figuras mais ou menos definidas. Olho à minha volta. Vejo a multidão movendo-se. Continuam sem olhar. Seguem um plano que já se entranhou, diria que já se tornou parte integrante do seu ser. Eu já estive assim, já me reconheci como parte integrante desta máquina que se move e faz mover como um metrónomo com uma cadência certa e envolvente, que de tanto envolver nos aprisiona, asfixia e não nos deixa viver. Não me conhecia, nem sabia quem eram aqueles que me envolviam. Não sabia para onde iria, o que conduzia a uma incerteza interior, mas também a uma necessidade de me descobri e de achar o meu caminho. Nesta procura incessante que poderia conduzir a algo, nem que fosse simplesmente ao mesmo, mas tendo certeza de que procurei, de que caminhei, que descobri algo, nem que fosse simplesmente a simplicidade do nada.
Olho o céu. Lá no alto, pequenas agregados moleculares de água unem-se numa conjugação que culminará numa gota, que ao crescer cada vez mais, atingirá a massa necessária para vencer a inércia e assim, deslocar-se de forma incessante para a superfície terrestre juntamente com muitas outras similares, mas diferentes. Aqui à minha volta vejo algo similar. As pessoas movendo-se com um interesse por vezes similar, mas ao mesmo tempo diferente, pensando apenas no seu umbigo e não olhando para todos aqueles que caminham à sua volta no mesmo sentido e com objectivos similares.
Elevo o olhar. Vejo um desses pedaços do céu a cair. Lentamente, ultrapassa a atmosfera como todos os outros.
Recebo um encontrão. Interrompi a rotina de alguém que me olha por instantes de forma reprovadora, logo voltando à sua constância esquecendo-se imediatamente de um pequeno acidente.
Elevo novamente o olhar. Imediatamente sinto o toque suave e frio da água.
Limpo a testa.

3 Comments:

Blogger Silvia Leao said...

Chuva no Verão!
É tão agradável...

2:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Água que nos refresca a fronte... que nos purifica, que nos relembra o Baptismo. Água que nos liquidifica; que nos transporta como um rio de vida, água que sacia o desejo de viver, de amor, de estar presente... Água essa que nos adoça com uma necessidade intemporal de amar para viver e dela beber para amar...

9:15 da tarde  
Blogger Sergio Figueiredo said...

água que enfurece e que mata também. presumo que todos conheceis a não necessidade de beleza poética. e nem todos somos católicos cara brigitte, mas parto do princípio de que devaneavas sobre ti (o que é óptimo).

mas a crítica não é feita ao texto, que consegue ser sofisticado sem cair na desagradável presunção. Talvez por não pretenderes parecer mais do que aquilo que és. Escreves simples nas tuas introspecções, com um ambiente muito gráfico.

É agradável e devias sentir orgulho nisso.

12:27 da manhã  

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