VI:Brisa (2ªparte)
O homem está agora num restaurante. O ruído desorganizado, de várias dezenas de clientes a discursarem sobre tudo envolve-o: as aulas correm bem, ontem tive uma reunião com o chefe, amo-te, a 'vó 'tá pior, 'tou sim o papel que tens que trazer é o azul, para mim pode ser frango estufado, podia-me trazer a conta faz favor. Mas a sua atenção está apenas focada naquela mulher que está à sua frente, com a qual noutros tempos tinha estado em reciprocidade na praia. Agora ela diz-lhe que é o fim, as coisas já não são iguais, a novidade terminou. Tudo é mais simples se acabassem... O mundo desaba novamente como o caminhar já não fizesse sentido...
Escrevo rápido nervosamente já por várias vezes alterei o que primeiro tinha escrito risco uma e outra vez. Paro. Releio reescrevo tiro as meias palavras ponho outras preparo o instrumento que me levará ao mais baixo patamar dantesco ligo o aparelho de música. É tudo frenético impensado inimaginado desligado da realidade que até aqui vivi. Ponho a rodar a sétima sinfonia escrita pelo bonense. A música arranca. Chega ao segundo andamento. A cadência começa lentamente, lentamente, piano depois cresce, lentamente torna-se mais forte, toda a orquestra se vê envolvida depois da estafeta entre cordas e sopros, todo o ambiente está imerso, a sua cabeça ausenta-se, momentaneamente subiu patamares, quando regressa ao seu mundo o tema inicial já saiu e já voltou com nova face. A sua também está diferente, os olhos estão marianamente pacíficos. As coisas passam-se mais rápido, sacadicamente move a sua mão, acerta, pega no revólver encosta-o à sua fronte, encolhe o indicador direito. O segundo andamento terminou, o corpo caiu sobre o papel nervosamente escrito cujo peso era suportado por um outro, azul. O terceiro andamento começa. Ali, já só o ramo de gardénias brancas move-se ainda impulsionada pela brisa perene e omnipresente que recebe nos seus braços a nova realidade.
Foi um fim.
Um fim de dia. Ali no quarto, desfolha o jornal, as notícias quase sempre trágicas que alimentam esse estômago cerebral sedento das desgraças alheias, a novela dos amores e desamores que como começam acabam, as novas descobertas científicas que remudam as mudanças de destino que o anterior desconhecimento impunha, o concurso de fotos ganho por uma estranha imagem de uma praia semideserta com um casal, um pai e seu filho, um velho sentado e um carro próximo dele. Parou para pensar, em como a vida muda tão rápido, como o interior pode ser alterado num constante crescer assente no passado olhando o futuro, parou. A brisa fez entrar pela janela uma folha azul gasta pelo tempo. Levantou-se, pegou nela e leu:
Um fim
desejado
Alimentado em seu ser.
Num caminho
complexo,
feito em parceria,
com um vento perene e omnipresente.
Escrevo rápido nervosamente já por várias vezes alterei o que primeiro tinha escrito risco uma e outra vez. Paro. Releio reescrevo tiro as meias palavras ponho outras preparo o instrumento que me levará ao mais baixo patamar dantesco ligo o aparelho de música. É tudo frenético impensado inimaginado desligado da realidade que até aqui vivi. Ponho a rodar a sétima sinfonia escrita pelo bonense. A música arranca. Chega ao segundo andamento. A cadência começa lentamente, lentamente, piano depois cresce, lentamente torna-se mais forte, toda a orquestra se vê envolvida depois da estafeta entre cordas e sopros, todo o ambiente está imerso, a sua cabeça ausenta-se, momentaneamente subiu patamares, quando regressa ao seu mundo o tema inicial já saiu e já voltou com nova face. A sua também está diferente, os olhos estão marianamente pacíficos. As coisas passam-se mais rápido, sacadicamente move a sua mão, acerta, pega no revólver encosta-o à sua fronte, encolhe o indicador direito. O segundo andamento terminou, o corpo caiu sobre o papel nervosamente escrito cujo peso era suportado por um outro, azul. O terceiro andamento começa. Ali, já só o ramo de gardénias brancas move-se ainda impulsionada pela brisa perene e omnipresente que recebe nos seus braços a nova realidade.
Foi um fim.
Um fim de dia. Ali no quarto, desfolha o jornal, as notícias quase sempre trágicas que alimentam esse estômago cerebral sedento das desgraças alheias, a novela dos amores e desamores que como começam acabam, as novas descobertas científicas que remudam as mudanças de destino que o anterior desconhecimento impunha, o concurso de fotos ganho por uma estranha imagem de uma praia semideserta com um casal, um pai e seu filho, um velho sentado e um carro próximo dele. Parou para pensar, em como a vida muda tão rápido, como o interior pode ser alterado num constante crescer assente no passado olhando o futuro, parou. A brisa fez entrar pela janela uma folha azul gasta pelo tempo. Levantou-se, pegou nela e leu:
Um fim
desejado
Alimentado em seu ser.
Num caminho
complexo,
feito em parceria,
com um vento perene e omnipresente.
7 Comments:
"Agora ela diz-lhe que é o fim, as coisas já não são iguais, a novidade terminou. Tudo é mais simples se acabassem... O mundo desaba novamente como o caminhar já não fizesse sentido..." Se é na novidade que estava assente esse caminhar, para onde o levaria? e que palavras são essas: "tudo mais simples" que estupidez é essa? não será que quer dizer "mais fácil"? Acabar...as relações não acabam, possivelmente desvanecem...qd se quer "acabar" elas atormentam-nos e tornam-se amarras que nos pesam no andar...e doem. Será que é o fim?
Caro anónimo,
Gostaria de agradecer o comentário, embora o mesmo esteja em desacordo com (pelo menos) uma parte de um texto meu, alegra-se por ter criado na sua pessoa pelo menos o estimulo de pensar sobre este assunto e deixar aqui a marca da sua passagem.
Num caminhar a solo ou acompanhado, é um facto que o seu início pode ser motivado apenas pela novidade, isto é pela diferença. Essa (a novidade), pode também não terminar num sopro rápido e desinspirado, se o caminhante/s souber/em ver e procurar as pequenas/grandes novidades que vão surgindo pelo caminho. Aliás, nunca vi nenhum caminho que se repeti-se, mesmo quando é o mesmo, são momentos, são situações, são experiências diferentes... O interesse estará em querer continuar o caminho como até aí, tudo o resto que se diga, serão apenas desculpas mais ou menos verdadeiras que se poderão atirar para o ar em certos momentos. Vejo essa expressão como "mais uma desculpa"...
Poderia dizer "mais fácil", mas no momento de escrever esta mísera narração optei por "tudo mais simples", porque embora não sendo a opção mais fácil, pareceu-me ser a que mais se aproximava do que se pretendia transmitir. Poderá ter sido cair na estupidez da simplicidade, mas no momento não me pareceu (como não me parece agora), mas felizmente as opiniões divergem (é assim que o mundo avança...), e claro anseio que no meu crescimento, acessos de estupidez e simplicidade de processos se tornem mais raros.
Por fim, não sei das suas experiências de vida, também não interessam uma vez que não são só elas que nos influenciam, mas infelizmente as relações podem acabar de formas por vezes radicais e surpreendentes (pelo menos é assim com certas pessoas). Outras acabam realmente por desvanecer-se. E em relação ao tormento de "acabar" provavelmente esses acabares não acabaram ainda. Obviamente não será o fim, será apenas um fim, ou não será a vida cheia de pontos finais, seguidos de parágrafos que por vezes são ainda mais longos, preenchidos e ricos que o anterior?
a liberdade de escrita permite que se tomem correctas algumas sentenças que de outro modo não fariam sentido. é de certo modo um brincaar com as palavras. mas eu também gosto mais do texto directo, por acaso, o que não significa que seja o mais correcto, nem de perto nem de longe.
O meu comentário não se prende com as palavras, mas com o que elas escondem. Quem diz, do nada “é mais simples”, está a fugir à responsabilidade do seu acto…é mais simples porque é menos exigente…porque é mais rápido…porque não é confrontado…é “mais simples” – não – mais simples era ter sido verdadeiro e não deixar pontas soltas como deixam as relações que “simplesmente” acabam…
Acrescento - a simplicidade nada tem de estupidez – e no meu caso anseio que o meu crescimento me leve à simplicidade, é tão mais perfeita, tão mais humana.
Quando me referi às relações que acabam, o que eu queria deixar é que não acredito que alguma vez acabem…as nossas relações são laços e podem ter dois finais possíveis, ou são “deslaçados” suavemente pelas duas pontas ou então quando a tentativa de “deslaçar” é forçada, violenta, abrupta, o laço transforma-se em nó, ficando as duas pontas presas contra a sua vontade.
Para acabar concordo contigo, que a vida são consequentes e continuados pontos..pontos finais...reticências e constantes começos, cheios de "novidades" ;)
Caro anónimo,
Penso ter compreendido melhor a sua ideia, Não posso deixar de concordar que o mais correcto teria sido "ter sido verdadeiro", mas na vida infelizmente, nem sempre se é completamente ou de todo verdadeiro...
Gostei da imagem dos laços, mas continuo-o a achar que não é completa no sentido de explicar todas as soluções possíveis da questão, mas isso são opiniões...
ninguem consegue ser completamente ou de todo verdadeiro com o outro e até consigo próprio...infelizmente muitas vezes somos conduzidos, limitados e/ou agarrados a medos, às vezes até poderemos ter forças para lutar contra esses pesos, tantas vezes disfarçados de segurança e de verdade, mas outras não...se calhar faz parte das relações um perceber no outro as suas limitações e razões...
Caro anônimo,
Concordo. De facto é uma luta diária procurar ser-se verdadeiro consigo próprio. Quanto ao "se calhar faz parte das relações um perceber no outro as suas limitações e razões...", só acrescentaria um pequeno ponto, faz parte das relações também perceber o outro nas suas limitações e razões e saber aceitá-las e acolhê-las.
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