O homem está agora num restaurante. O ruído desorganizado, de várias dezenas de clientes a discursarem sobre tudo envolve-o: as aulas correm bem, ontem tive uma reunião com o chefe, amo-te, a 'vó 'tá pior, 'tou sim o papel que tens que trazer é o azul, para mim pode ser frango estufado, podia-me trazer a conta faz favor. Mas a sua atenção está apenas focada naquela mulher que está à sua frente, com a qual noutros tempos tinha estado em reciprocidade na praia. Agora ela diz-lhe que é o fim, as coisas já não são iguais, a novidade terminou. Tudo é mais simples se acabassem... O mundo desaba novamente como o caminhar já não fizesse sentido...
Escrevo rápido nervosamente já por várias vezes alterei o que primeiro tinha escrito risco uma e outra vez. Paro. Releio reescrevo tiro as meias palavras ponho outras preparo o instrumento que me levará ao mais baixo patamar dantesco ligo o aparelho de música. É tudo frenético impensado inimaginado desligado da realidade que até aqui vivi. Ponho a rodar a sétima sinfonia escrita pelo bonense. A música arranca. Chega ao segundo andamento. A cadência começa lentamente, lentamente, piano depois cresce, lentamente torna-se mais forte, toda a orquestra se vê envolvida depois da estafeta entre cordas e sopros, todo o ambiente está imerso, a sua cabeça ausenta-se, momentaneamente subiu patamares, quando regressa ao seu mundo o tema inicial já saiu e já voltou com nova face. A sua também está diferente, os olhos estão marianamente pacíficos. As coisas passam-se mais rápido, sacadicamente move a sua mão, acerta, pega no revólver encosta-o à sua fronte, encolhe o indicador direito. O segundo andamento terminou, o corpo caiu sobre o papel nervosamente escrito cujo peso era suportado por um outro, azul. O terceiro andamento começa. Ali, já só o ramo de gardénias brancas move-se ainda impulsionada pela brisa perene e omnipresente que recebe nos seus braços a nova realidade.
Foi um fim.
Um fim de dia. Ali no quarto, desfolha o jornal, as notícias quase sempre trágicas que alimentam esse estômago cerebral sedento das desgraças alheias, a novela dos amores e desamores que como começam acabam, as novas descobertas científicas que remudam as mudanças de destino que o anterior desconhecimento impunha, o concurso de fotos ganho por uma estranha imagem de uma praia semideserta com um casal, um pai e seu filho, um velho sentado e um carro próximo dele. Parou para pensar, em como a vida muda tão rápido, como o interior pode ser alterado num constante crescer assente no passado olhando o futuro, parou. A brisa fez entrar pela janela uma folha azul gasta pelo tempo. Levantou-se, pegou nela e leu:
Um fim
desejado
Alimentado em seu ser.
Num caminho
complexo,
feito em parceria,
com um vento perene e omnipresente.