terça-feira, dezembro 26, 2006

Hurt

I hurt myself today
to see if I still feel
I focus on the pain
the only thing that's real
the needle tears a hole
the old familiar sting
try to kill it all away
but I remember everything

what have I become?
my sweetest friend
everyone I know
goes away in the end
you could have it all
my empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt

I wear this crown of shit
upon my liar's chair
full of broken thoughts
I cannot repair
beneath the stains of time
the feelings disappear
you are someone else
I am still right here

what have I become?
my sweetest friend
everyone I know
goes away in the end
and you could have it all
my empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt

if I could start again
a million miles away
I would keep myself
I would find a way

Hurt original de Nine Inch Nails no álbum The Downward Spiral de 1994, interpretado por Johnny Cash

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quarta-feira, dezembro 20, 2006

IX: Helen of Troy

Wild flight on flight against the fading dawn
The flames' red wings soar upward duskily.
This is the funeral pyre and Troy is dead
That sparkled so the day I saw it first,
And darkened slowly after. I am she
Who loves all beauty -- yet I wither it.
Why have the high gods made me wreak their wrath --
Forever since my maidenhood to sow
Sorrow and blood about me? Lo, they keep
Their bitter care above me even now.
It was the gods who led me to this lair,
That tho' the burning winds should make me weak,
They should not snatch the life from out my lips.
Olympus let the other women die;
They shall be quiet when the day is done
And have no care to-morrow. Yet for me
There is no rest. The gods are not so kind
To her made half immortal like themselves.
It is to you I owe the cruel gift,
Leda, my mother, and the Swan, my sire,
To you the beauty and to you the bale;
For never woman born of man and maid
Had wrought such havoc on the earth as I,
Or troubled heaven with a sea of flame
That climbed to touch the silent whirling stars
And blotted out their brightness ere the dawn.
Have I not made the world to weep enough?
Give death to me. Yet life is more than death;
How could I leave the sound of singing winds,
The strong sweet scent that breathes from off the sea,
Or shut my eyes forever to the spring?
I will not give the grave my hands to hold,
My shining hair to light oblivion.
Have those who wander through the ways of death,
The still wan fields Elysian, any love
To lift their breasts with longing, any lips
To thirst against the quiver of a kiss?
Lo, I shall live to conquer Greece again,
To make the people love, who hate me now.
My dreams are over, I have ceased to cry
Against the fate that made men love my mouth
And left their spirits all too deaf to hear
The little songs that echoed through my soul.
I have no anger now. The dreams are done;
Yet since the Greeks and Trojans would not see
Aught but my body's fairness, till the end,
In all the islands set in all the seas,
And all the lands that lie beneath the sun,
Till light turn darkness, and till time shall sleep,
Men's lives shall waste with longing after me,
For I shall be the sum of their desire,
The whole of beauty, never seen again.
And they shall stretch their arms and starting, wake
With "Helen!" on their lips, and in their eyes
The vision of me. Always I shall be
Limned on the darkness like a shaft of light
That glimmers and is gone. They shall behold
Each one his dream that fashions me anew; --
With hair like lakes that glint beneath the stars
Dark as sweet midnight, or with hair aglow
Like burnished gold that still retains the fire.
Yea, I shall haunt until the dusk of time
The heavy eyelids filled with fleeting dreams.

I wait for one who comes with sword to slay --
The king I wronged who searches for me now;
And yet he shall not slay me. I shall stand
With lifted head and look within his eyes,
Baring my breast to him and to the sun.
He shall not have the power to stain with blood
That whiteness -- for the thirsty sword shall fall
And he shall cry and catch me in his arms,
Bearing me back to Sparta on his breast.
Lo, I shall live to conquer Greece again!

Helen of Troy por Sara Teasdale (1884-1933)

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segunda-feira, dezembro 18, 2006

IX: Helena


Representação de Helena de Tróia em Vaso Grego

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quinta-feira, dezembro 14, 2006

IX: Tróias (3ª parte)

Chegada a casa: só ela e mais ninguém. A comédia grega terminara. Tirou as sandálias. A tristeza poderia voltar a ganhar o seu lugar.
Como sempre, comeu um pão com uns restos de comida que restavam no frigorífico acompanhados pelo iogurte que ajudara a vender na última campanha. Na televisão o mesmo de sempre: o embrutecedor de mentes brilhava.
Chegava a hora de dormir para ficar pronta para mais um dia de trabalho, para mais umas grandes ideias surgirem. Antes um banho calmo e lento, a leitura do romance igual a tantos outros, de tal modo que nem Helena sabia porque ainda o lia. Depois, o descanso.
Da rua chegavam apenas os sons de um ou outro transeunte a caminhar para casa, ou não. Helena caiu no reino de Morfeu. Ali estava ela novamente naquele passeio calcetado a afugentar as pombas, iria ser uma grande aviadora e voar como elas, da rua ouviu o barulho de um cavalo com um belo cavaleiro a montá-lo. Acordou.
Na rua já não se ouvia qualquer barulho humano. A noite vencera. Voltou a adormecer.
O despertador tocou, cortando por momentos o som metronómico do relógio. Na rua o trânsito feroz ganhava vida e o maralhar de gente que todos os dias pululavam as ruas iam aparecendo. No interior do quarto havia luz, o sol já ia alto e através do filtro das frestas das persianas inundava os olhos fechados de Helena.
Helena não acordou.

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segunda-feira, dezembro 11, 2006

IX: Tróias (2ª parte)

No emprego sempre mais do mesmo: os olhares invejosos que cada vez eram mais capazes de fissurar as suas muralhas defensivas. Andando pelos corredores sentia o seu isolamento cercado pela inveja do seu sucesso que, embora todos lhe reconhecessem, ela ainda não encontrara. Chegou ao seu escritório. Ali envolvida pelos vidros tornados paredes envoltas pelos pequenos estores que filtravam os olhares, sentia-se um animal de zoo. Aquele era o seu local fisicamente inalcansável, mas sempre acessível aos olhares invejosos que se transformavam em certeiras setas de Páris. Ali nasciam todas as suas ideias, todos os seus projectos. Naquele local, produtos comercialmente incapazes eram transformados em ouro pelo seu toque. Todos os dias fazia magia, todos os dias era olhada com ferocidade e com reconhecimento.
Hoje não era diferente, a nova campanha corria de feição. Todo o projecto estava montado de forma verdadeiramente eficiente e apelativa. Helena iria brilhar novamente. Pegando em todo o material da apresentação, Helena dirigiu-se para a sala de reuniões. Durante o percurso, sempre os olhares para os quais Helena já não respondia.
Chegou à sala de reuniões. Envolvendo a grande mesa de vidro fosco encontravam-se os seus chefes e os novos clientes. A ideia era conseguir fazer uma campanha capaz de impor a venda de uma nova linha de champôs dois em um, num mercado demasiado sobrecarregado de tais produtos. Para tal tarefa só poderia ser escolhida a melhor e essa era Helena.
A apresentação, com toda a sua energia, vigor e singularidade, adocicada com uma pitada de politicamente incorrecto, conquistou a audiência. O êxito estava novamente garantido. Helena triunfara.
No fim, após os cumprimentos e a troca habitual de impressões, Helena regressou ao seu castelo. A sua máscara de sorrisos e boa disposição poderia ser finalmente posta de lado. O dia foi correndo, sem novidades. O almoço foi como sempre no café ao lado da companhia. Enquanto comeu folheou lenta e desinteressadamente uma revista de moda. A nova estação chegava com a sua colecção e era altura de procurar as novidades para substituir o guarda-roupa. Voltou novamente ao mesmo trabalho de sempre mas hoje não teria de criar novas campanhas.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

IX: Tróias (1ª parte)

Da rua vinham os sons de todos os dias. O trânsito feroz e desumano ganhava forma na selva urbana. Ali, no interior do quarto ainda escuro, os primeiros raios de sol moldados pelas frestas das persianas lentamente subiam nos lençóis da cama até afagarem os olhos fechados de Helena.
O som mecânico do relógio marcava metronicamente as horas. O despertador soou. A mão de Helena moveu-se,como sempre. Mais um dia arrancava.
Tomada ainda pela entropia do sono, Helena deixou-se ficar mais uns minutos no vale dos lençóis. Após cinco minutos levantou-se. No fim da sua higiene olhou o espelho. Contemplou, lentamente, todas as linhas do seu rosto. A expressão das suas rugas ligeiras que marcavam a sua testa, os seus olhos azuis tenuamente salpicados por toques de âmbar, a sua boca de uma assimetria invulgar e cativante, envolvida por duas suaves elevações animadas por uma cor da mesma natureza que os seus suaves lábios. Assim era Helena, bela e capaz de causar conflitos e duelos, mas só e solitária como outras no passado.
Como sempre saía para o seu emprego. Entregara-se jovem a esta vida, cedo esquecera os sonhos de criança, ainda humildes e puros. Cedo deixou-se enganar pela vida. Agora o rumo eleito livremente nunca a deixaria voltar a ser ou a ver aquela criança que, qual tarefa hercúlea, estimulava o voo das pombas da rua e procurava impedir o seu regresso ao porta-aviões constituído pelo passeio calcetado.
Mais uma vez saía. Hoje particularmente cansada, não por uma noite mal dormida, mas apenas pelo sentimento de indiferença que tudo lhe causava. Andava cansada e desiludida e cada dia era mais difícil acordar e voltar ao mesmo. Cada dia era mais insensível a si, sentindo-se, no entanto, com maior necessidade de se ensimesmar e esquecer o supérfluo do consumismo em que se tinha tornado. O emprego era agora somente trabalho; um trabalho constante de procurar idealizar a venda de novos e desnecessários produtos, mas dos quais Helena desabrochava algum interesse.
O trânsito já dominava o seu reino. Helena apanhou o metro. No meio de tanta gente, sentia-se sempre só. Os olhares que por vezes lhe eram dirigidos, embora aprovadores, eram sempre acompanhados por um sorriso que nunca lhe agradou. A solidão crescia nestas alturas sempre um pouco mais.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

IX: Escolhas

Ao longo da nossa vivência realizamos escolhas, que por vezes, só muito mais tarde poderemos saber se foram as correctas.
As escolhas feitas em total (ou não) liberdade devem depois ser assumidas e são elas que por vezes, por essa assunção, conduzem a um maior ou menor tolhimento de liberdade.
O engraçado de todo este jogo de dá cá, tira dali a liberdade é, penso eu, conseguir jogar, saber arriscar, e nesse risco ser feliz...