sexta-feira, julho 28, 2006

Flashes das férias III

recordar...





Flashes das férias II

Sempre a recordar...








Flashes das férias I

como é interessante recordar os bons momentos das férias, principalmente quando se iniciam outras...









quinta-feira, julho 27, 2006

Where is my mind?

ooooooh - stop

With your feet in the air and your head on the ground
Try this trick and spin it, yeah
Your head will collapse
But there's nothing in it
And you'll ask yourself

Where is my mind (3x)

Way out in the water
See it swimmin'

I was swimmin' in the carribean
Animals were hiding behind the rock
Except the little fish
But they told me, he swears
Tryin' to talk to me to me to me

Where is my mind (3x)

Way out in the water
See it swimmin' ?

With your feet in the air and your head on the ground
Try this trick and spin it, yeah
Your head will collapse
If there's nothing in it
And you'll ask yourself

Where is my mind (3x)

Ooooh
With your feet in the air and your head on the ground
Ooooh
Try this trick and spin it, yeah
Ooooh
Ooooh

The Pixies, no album Surfer Rosa, 1988

terça-feira, julho 25, 2006

Aventuras

Quando nisto iam, descobriram trinta ou quarenta moinhos de vento, que há naquele campo. Assim que D. Quixote os viu, disse para o escudeiro:
- A aventura vai encaminhando os nossos negócios melhor do que o soubemos desejar; porque, vês ali, amigo Sancho Pança, onde se descobrem trinta ou mais desaforados gigantes, com quem penso fazer batalha, e tirar-lhes a todos as vidas, e com cujos despojos começaremos a enriquecer, que esta é boa guerra, e bom serviço faz a Deus quem tira tão má raça da face da terra.
- Quais gigantes? - disse Sancho Pança.
- Aqueles que ali vês - respondeu o amo - de braços tão compridos, que alguns os têm de quase duas léguas.
- Olhe bem, Vossa Mercê - disse o escudeiro -, que aquilo não são gigantes, são moinhos de vento; e os que parecem braços não são senão as velas, que tocadas pelo vento fazem trabalhar as mós.
- Bem se vê - respondeu D. Quixote - que não andas corrente nisto de aventuras; são gigantes, são; e, se tens medo, tira-te daí, e põe-te em oração enquanto eu vou entrar com eles em fera e desigual batalha.
Dizendo isto, meteu esporas ao cavalo Rocinante.

de Miguel de Cervantes em D. Quixote de la Mancha, no cap. VIII do Primeiro Livro

sábado, julho 22, 2006

Visão Pessoal

Van Gogh, Auto-retrato, 1888

quinta-feira, julho 20, 2006

Conversa de jardim, 2ª parte

Hum… pois… talvez… Sabe, estive a ler e sem querer percebi, é tudo uma questão de perspectiva, de presentes e de futuros.
Não é disso que falo. Repare no meu caso, do passado, não sei, para mim não existe, de nada me serve. Presente não tenho, é sempre igual, e se é igual não é mais que um pretérito continuamente a repetir-se. E futuro, desconheço mas surge como um pretérito mais-que-continuamente a repetir-se. Não sei se é assim com todos os que estão aqui, comigo é, e com grande parte daqueles que se dizem sãos também é, pelo menos comportam-se como se fosse. É como um caleidoscópio, mistura-se e dá sempre uma imagem diferente, mas a base é sempre a mesma…
Mas sabe, e isto para terminar por hoje a conversa, porque se faz tarde, e isto de me perder no parque pode dar para o torto, ainda vem uma cega procurar-me, a mando de um mudo, cujo recado foi dado primeiro à surda.
Sabe, e se não o sabe fica a saber, eu pelo menos sei do que sofro. Sim sei, talvez não esteja assim tão mal. O que eu sofro é de conversas intermináveis com o senhor Folha e o senhor Silêncio, enquanto eles vivem na ilusão, ou melhor no limbo de um diagnóstico ainda não pesquisado.

terça-feira, julho 18, 2006

Conversa de jardim, 1ª parte

Dizem. Dizem que estou doido, que oiço vozes que não existem. Raios, se as ouço se elas me falam se me compreendem se me dão conselhos se me ouvem, serão falsas? Não estarão os outros doidos?
Ontem saí. Fui ao parque. Sentei-me, perdi-me. Não sei o que foi, se aquela folha simples, seca, quente, a dançar com o vento, se aquela calma, aquele silêncio, aquela deixa que me conduziu novamente a este questionamento interior.
Sei que estou doido, mas com a minha demência consigo ver que todos à minha volta não estarão assim tão sãos como a sociedade os cataloga:
- o médico que me vê de relance todos os dias, sim o mudo, nunca lhe vi um olhar feliz, só aquele olhar ferido, cavo e seco;
- a enfermeira que me trata, sim a cega, fala de forma cadente todo um discurso à muito decorado e que hoje é estandardizado para todos aqueles que pela frente lhe surgem. Muito provavelmente quando vai deitar os filhos repete: passas-te um bom dia? aleijaste-te? falas-te muito?
- a senhora da comida, sim a surda, nunca compreende aquilo que lhe é dito, de tão ocupada que tem a cabeça de vento…
No entanto, perante todos eles sou eu que estou doido. Como disse? Concordo, acho que tem toda a razão, claro mas todos eles estão mais ou tão doentes como eu, é tudo uma questão de curvas.

domingo, julho 16, 2006

III: Louco?...

Diz-se que louco é todo aquele que vive e observa o mundo de tal modo que constrói a sua própria realidade. Por vezes, essa reconstrução é de tal modo forte e intensa que só ele a percebe, afastande-se de todos os que o envolvem. Não é menos verdade, que desse ponto de vista a loucura será uma questão de padrões comportamentais definidos pela sociedade e pela maioria. Mas, não será mais louco aquele que norteia o seu comportamento, não pelos seus valores ou pelo o que o seu coração lhe indicam como caminho, mas sim pelo que os outros que o envolvem lhe asseguram ser o mais correcto e normal? Sejamos menos loucos...

"Se, apesar de tudo, ainda houver ranzinzas e descontentes, que ao menos vejam como é bonito e vantajoso ser acusado de loucura."
de Erasmo de Roterdão em O Elogio da Loucura, 1544

quinta-feira, julho 13, 2006

A Hard Rain's A-Gonna Fall

Oh, where have you been, my blue-eyed son?
Oh, where have you been, my darling young one?
I've stumbled on the side of twelve misty mountains,
I've walked and I've crawled on six crooked highways,
I've stepped in the middle of seven sad forests,
I've been out in front of a dozen dead oceans,
I've been ten thousand miles in the mouth of a graveyard,
And it's a hard, and it's a hard, it's a hard, and it's a hard,
And it's a hard rain's a-gonna fall.

Oh, what did you see, my blue-eyed son?
Oh, what did you see, my darling young one?
I saw a newborn baby with wild wolves all around it
I saw a highway of diamonds with nobody on it,
I saw a black branch with blood that kept drippin',
I saw a room full of men with their hammers a-bleedin',
I saw a white ladder all covered with water,
I saw ten thousand talkers whose tongues were all broken,
I saw guns and sharp swords in the hands of young children,
And it's a hard, and it's a hard, it's a hard, it's a hard,
And it's a hard rain's a-gonna fall.

And what did you hear, my blue-eyed son?
And what did you hear, my darling young one?
I heard the sound of a thunder, it roared out a warnin',
Heard the roar of a wave that could drown the whole world,
Heard one hundred drummers whose hands were a-blazin',
Heard ten thousand whisperin' and nobody listenin',
Heard one person starve, I heard many people laughin',
Heard the song of a poet who died in the gutter,
Heard the sound of a clown who cried in the alley,
And it's a hard, and it's a hard, it's a hard, it's a hard,
And it's a hard rain's a-gonna fall.

Oh, who did you meet, my blue-eyed son?
Who did you meet, my darling young one?
I met a young child beside a dead pony,
I met a white man who walked a black dog,
I met a young woman whose body was burning,
I met a young girl, she gave me a rainbow,
I met one man who was wounded in love,
I met another man who was wounded with hatred,
And it's a hard, it's a hard, it's a hard, it's a hard,
It's a hard rain's a-gonna fall.

Oh, what'll you do now, my blue-eyed son?
Oh, what'll you do now, my darling young one?
I'm a-goin' back out 'fore the rain starts a-fallin',
I'll walk to the depths of the deepest black forest,
Where the people are many and their hands are all empty,
Where the pellets of poison are flooding their waters,
Where the home in the valley meets the damp dirty prison,
Where the executioner's face is always well hidden,
Where hunger is ugly, where souls are forgotten,
Where black is the color, where none is the number,
And I'll tell it and think it and speak it and breathe it,
And reflect it from the mountain so all souls can see it,
Then I'll stand on the ocean until I start sinkin',
But I'll know my song well before I start singin',
And it's a hard, it's a hard, it's a hard, it's a hard,
It's a hard rain's a-gonna fall.


Música de Bob Dylan no álbum The Freewheelin' de 1963

terça-feira, julho 11, 2006

Estalagem?

Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bom. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bom também.

de Bernardo Soares em Livro do Desassossego

domingo, julho 09, 2006

Mozart...

Mozart a compor o Requiem no leito de morte
Ilustração provavelmente de Sussmayer (1791)

quarta-feira, julho 05, 2006

Aqui

Ai, que não consigo mais abrir os olhos… É tudo tão difícil, tão duro, tão custoso…
Á minha volta todos se reúnem, esperando o meu fim, estão tristes, estão cansados por todos os trabalhos e por toda a carga emocional com a têm sido expostos… E eu, que faço, que sinto, como estou, o que penso? Estou aqui, só?
A vida deu-me muito, tanto que não sei se fui capaz de retribuir em um décimo, mas agora que revejo minha vida, que contemplo o filme da curta passagem por este mundo algo me diz que não terei sido capaz de aproveitar tudo o que poderia ter ganho e assim acabei por perder mais… Será que fui completamente feliz, não terei em vários momentos feito opções que se revelaram as menos correctas? Terei sabido reagir bem a todas as situações que se foram deparando, terei sido capaz de retribuir todo o amor que recebi, terei deixado algo que perdure a minha parca passagem terrena? Mesmo com todos estes pensamentos, o facto é que à minha volta sinto a presença de toda a minha família: a minha esposa, essa grande mulher que me amou toda a sua vida, que me deu tudo o que tinha e não tinha, mas principalmente concebeu os meus três filhos, essas belas criaturas que me encheram de alegrias todos estes anos e que permitiram por mais de uma vez reconhecer que nem tudo foi em vão. Todos eles me preencheram as medidas, todos eles me tornaram um homem mais completo, mas será que eu lhes soube retribuir?
Aqui deitado, incapaz de qualquer expressão para o exterior, preso no meu próprio corpo, depois daquele acidente, ouço, sinto-os, sofro com o seu sofrimento e mais porque os faço sofrer, se ao menos eles soubessem como eu os amo, se ao menos lhes pudesse dizer isso, que toda a vida os amei, que não há mais ninguém no mundo a quem deseje mais amor, se ao menos por um segundo pudesse abrir os olhos e, nem que fosse pela última vez, pudesse ter um pouco dos seus olhares, ter mais um pouco deles…
Agora só me restam as imagens das minhas recordações no limbo dos meus sonhos, quando nem sei se durmo se apenas estou mais uma vez inoperante na minha inoperância.
Abalo agora novamente para o meu próprio mundo, deixo tudo o que me rodeia novamente, caio outra vez, no mundo dos meus sonhos, ou das minhas recordações, nem sei… De fundo, mantém-se apenas as vozes, agora incompreensíveis da minha família e mais baço ainda o som daquela música que puseram a tocar pois sabem quanto eu gosto daquela melodia. Este mergulho conduziu-me aquele dia em que conheci a minha mulher, era um jovem estudante de engenharia, e ali estava eu na flor da minha juventude. Nesse dia fui como fazia muitos das minhas noites ver estrelas para um monte fronteiro à minha aldeia. Naquele dia, como todos os outros lá estava ela, mas este foi diferente, não sei se foram as constelações novas da primavera, se foi apenas o estar cansada de esperar… Ela avançou, com o seu andar decidido, com o seu olhar cristalino voltado para mim, os seus cabelos loiros caídos no ombro e ela avançou decidida. Perguntou-me apenas se tinha um mapa das estrelas porque tinha dúvidas acerca de umas estrelas, e eu nem consegui responder. Parecia que algo me amordaçava, senti-me mais uma vez inoperante na minha inoperância…
Acordo. Claro que só eu o sinto. Todos se mantêm à minha volta. A minha esposa está agora a ler em voz alta o jornal do dia. Pelo meio comenta as notícias com um humor fino como nos dias mais felizes de uma das nossas férias… E eu aqui incapaz de responder, de ser eu de deixar esta inoperância que me oprime. Incapaz de retribuir todo o amor que ela me oferece…
Agora espero e procuro apenas ser capaz de ter a humildade de receber esta dádiva gratuita que a vida ainda é capaz de me oferecer. Talvez um dia seja capaz de dar, de retribuir ou apenas deixar a inoperância.